quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

TEU CANTO DE PRAIA


Um documentário de longa-metragem, produzido por Dialeto Latin American Documentary com fundos do PROGRAMA MONUMENTA- IPHAN- UNESCO-BID e Ministério da Cultura do Governo Brasileiro. Escrito e dirigido por Manu Sobral.

TEU CANTO DE PRAIA é um documentário, em fase de finalização, que trata da questão da troca geracional através da música. O território da pesquisa é o litoral da Mata Atlântica, no Sudeste Brasileiro. A população de onde surgem os personagens do filme é o povo CAIÇARA. Os caiçaras são os habitantes nativos da região da Mata Atlântica. Grupo heterogêneo; etnias branca européia, negro africano e índio sul-americano são sua base sanguínea, paisagens heterogêneas; da reserva ambiental Paranaense a regiões de turismo de luxo, passando por cidades históricas como Paraty- são sua geografia.
Pablo, baixista e pandeirista, integrante de uma banda eletro-acústica, filho de caiçaras agricultores e pescadores da Praia Grande migrados para Paraty na década de 70, tem 33 anos e encarna no filme personagem que busca um sentido existencial e político na re-leitura da música tradicional caiçara e deste modo de vida específico. Profissão: garçon, barqueiro, recepcionista e outras atividades esporádicas.
Marcio, o “Gênio da música”, 23 anos, toca todos os instrumentos com muita facilidade, mas é “especialista” no cavaquinho. Seu pai, Seu Vicente é musico do grupo tradicional OS CAIÇARAS – Coroas de Paraty. Marcio, até o encontro com o documentário, só tocava viola, cavaquinho e pandeiro de CIRANDA tradicional com seu pai, em casa. Na rua, e para ganhar um dinheiro extra, toca suas predileções; pagode, pop brasileiro e samba de mesa. Sua profissão: eletricista.
Leandro, nosso caiçara por opção. Integra o grupo Ciranda Elétrica junto com Pablo. Nascido em Copacabana no Rio de Janeiro, morou em Petrópolis, na periferia de Miami (onde freqüentava o movimento hip-hop) , e finalmente, aos 24 anos decide morar em Paraty para pesquisar o modo de vida caiçara e a questão ecológica que envolve este universo. Toca percussão. Profissão: recepcionista noturno.
Seu Leonildo, tem por volta de 65 anos, mora enquanto população tradicional na comunidade de Abacateiro, dentro do Canal do Varadouro, Paraná. Vive de maneira rústica; alternando a pequena agricultura com a pesca artesanal. Completa seu orçamento anual com a música , tocando e dando oficinas de Rabeca. De fato, Seu Leonildo é nosso personagem-guru musical. Além de ser considerado Mestre, por seu conhecimento natural e talento musical, também é um dos únicos músicos fandangueiros e tocador de rabeca (violino Rústico) a ter tido contato experimental com a musica tradicional– a vivência do tempo em que a Mata era o habitat de todo caiçara, e ali, plantavam, faziam mutirão e então festejavam a colheita com os ritmos de fandango. Hoje, para ele, viver dentro da Reserva Florestal pode ser um fardo.

A Família de Seu Leonildo conta com aproximadamente 12 pessoas. Todos moradores das comunidades vizinhas Abacateiro, Vila Fátima e Saco da Rita, nos manguezais da Reserva Florestal paranaense. Dentre eles, Jane, é nossa estrela. Filha de Seu Leonildo, tem 29 anos, é dançarina de Fandango e traz consigo esse conhecimento carregado ao longo da história pelas mulheres caiçaras. Casada com o caçador, palmiteiro e canoeiro Aparecido, mãe de Giovani, 7 anos.
O filme discorre sobre o universo particular de cada um desses personagens, da teia de relações que une uns aos outros em suas regiões, suas casas, em seus grupos musicais. Acompanha além da rotina, a produção musical de cada região; organizar ensaios com os grupos, conseguir divulgação, espaços e patrocínio para shows e apresentações,e, enfim ser produtor cultural e musical em cidades e/ou comunidades pequenas. Dentro da questão da produção musical enquanto trabalho, o filme abrange temas como o do produto cultural vendável para turistas, sobre tudo estrangeiros e/ou urbanos em busca de ideais naturalistas versus o tema da consciência Caiçara enquanto grupo, modo de vida e estrutura economico-social específica e senão ameaçada, em todo caso, completamente transformada nos últimos 30 anos pela especulação imobiliária, a construção de estradas de acesso em massa, o turismo galopante, o turismo de luxo, as religiões de cunho evangélico, a criação de parques e reservas ecológicas, as restrições ambientais e a própria chegada da tecnologia como em qualquer parte do mundo.

Pablo, Leandro e Marcio personificam o cenário “urbanizado”, e turístico de Paraty, no estado do Rio de Janeiro.
Seu Leonildo, Jane e família, no Paraná, personificam as problemáticas antropológicas ligadas `a outra ponta do cenário caiçara; as reservas e parques florestais e o grande controle ambiental por parte das forças institucionais do meio ambiente neste momento em que preservar os 7% restante da Mata Atlântica é assunto de interesse nacional, internacional, global.
As duas realidades, Paraty e Paraná, dão-se paralelamente no filme até que se encontram, finalmente. Uma viagem de Kombi leva Pablo, Marcio e Leandro, caiçaras urbanos de periferia, a atravessar os estados de Rio de Janeiro e São Paulo, até chegarem em ARIRI, fronteira do estado de São Paulo com o de Paraná, cidade “fantasma” , porto-promessa do Canal do Varadouro na década de 50, hoje distante de 70 km de estrada de terra de Registro, cidade muito pequena, e a 580km de São Paulo capital. Em ARIRI, os personagens pegam um barco que os leva, após 4 horas de viagem náutica, ao ABACATEIRO onde terão contato com a música caiçara em seu estado quase que natural. Encontram Seu Leonildo que os ensina a arte da Rabeca, instrumento perdido há 20-30 anos na música de Paraty. Deste encontro geracional e geográfico, além de belas trocas musicais surgem debates reais sobre arte, política, ecologia, floresta, agricultura ecológica, antropologia, populações tradicionais, processos de rápida urbanização, favelização dos cablocos, identidade e mito de origem.

O Documentário realizou 2 oficinas de construção de instrumentos musicais com materiais orgânicos e sintéticos, para 60 crianças e adolescentes de baixa renda das periferias e cidades de Paraty e Paranaguá. Em Paraty a oficina foi realizada no CEMBRA – escola pública situada no Centro Histórico, e, em Paranaguá, a oficina TEU CANTO DE PRAIA foi realizada dentro da Lona do ONG Mandicuera, na Ilha dos Valadares- reduto do fandango na periferia de Paranaguá. O professor é o musico e artista plástico FERNANDO SARDO, luthier e integrante do grupo GEM (Grupo Experimental de Musica). A idéia da oficina é fomentar a criatividade musical nos jovens caiçaras e eventualmente proporcionar através da venda posterior dos instrumentos fabricados, uma possível fonte de renda alternativa. Alem de construir os instrumentos os jovens também participaram do evento de encerramento de sua respectiva oficina. No evento, a equipe TEU CANTO DE PRAIA levou os jovens a uma visita cultural as comunidades da Ilha do Araújo e Ilha dos Valadares, onde encontraram mestres antigos que com eles tocaram e contaram os causos e estórias do tempo em que caiçara batia farinha e navegava dias e dias com canoa de voga. A troca geracional direta foi muito interessante, pois descobrimos que aproximadamente 60% dos jovens participantes das oficinas pouco ou nada sabiam sobre sua cultural de origem.

por Manu Sobral em 18/12/2008
Fotos: Tonica Moura

Para saber mais acesse o blog www.teucantodepraia.blogspot.com