terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Um sonho de cinema


Dia 2 de fevereiro de 2015 - para o dia 3 de fevereiro.

Um sonho.
Uma cor.
Duas salas de cinemas, juntas.
Roxa.
Apresentação de dois filmes.
Cenas de silhueta de um menino em frente o mar.
Fim de tarde.
Ele caminha, sai e volta pra cena e cada vez que volta está mais crescido.
Essa silhueta me fez lembrar Uirá, Passarinho filho da Tonica.
Logo percebi que estava na primeira exibição dos seus filmes, esse com o nome
 “ Em ... Fim “ e havia outra projeção na sala roxa.
.
O outro filme era sobre histórias.
Histórias de dentro do banheiro.
Histórias cantantes.
Imagens de amigos.

Um sonho.
Dois filmes.
Uma saudade.

Daniela Schmidt

Dani sonhou um sonho de cinema. Publico aqui sua memória do sonho. Memória de filme. Memória de vida. 


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Chamada para artigos sobre Documentário e os arquivos!

A Revista Devires lança uma nova chamada de artigos para o seu vol. 12, n.1 (Jan.Jun. 2015), propondo o dossiê “O documentário e os arquivos”. Provocação para a escrita no desafio de identificar e compreender as múltiplas maneiras do documentário se valer das imagens de arquivo.

até o dia 02 de maio!

mais informações:

http://www.fafich.ufmg.br/devires/index.php/Devires/announcement

domingo, 21 de dezembro de 2014

Edgar Morin

Dica de leitura.
Acabo de baixar. Vamos ao imaginário!
http://www.edgarmorin.org/descarga-el-cine-o-el-hombre-imaginario.html

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O fogo do Cinema e do Amor

Saraceni, Cineasta do Brasil
Amir Labaki


Paulo Cezar Saraceni, um dos realizadores essenciais do Cinema Novo, que definiu como ninguém na fórmula “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, está morto. Em mais de meio século como diretor, rodou onze longas-metragens de ficção, incluindo o ainda comercialmente inédito “O Gerente”, e outros tantos documentários de várias durações. Legou-nos ainda o principal livro de memórias sobre o movimento, “Por Dentro do Cinema Novo – Minha Viagem” (Nova Fronteira, 398 páginas, 1993, esgotado).

Sempre me chamou a atenção o constraste entre o espírito dionisíaco de Saraceni e seu cinema da angústia. Bon vivant, futebolista na juventude, carnavalesco a vida toda, sedutor inveterado, amigo fidelíssimo -como destacou Ricardo Miranda no documentário que dedicou a ele (“A Etnografia da Amizade”, 2007)-, havia nele algo do Bruno de Vittorio Gassman em “Il Sorpasso” (Aquele que Sabe Viver, 1962), de Dino Risi. Sei que a Risi ele preferiria a referência a seu mestre maior, Roberto Rossellini, ou a seus colegas do período que passou na Centro Experimental de Cinema em Roma, de Bernardo Bertolucci a Marco Bellochio. Mas falo do homem, antes que da obra.

Seus filmes, por sua vez, parecem sempre girar, no campo superficial do entrecho, em torno de protagonistas fora de lugar, solitários, inconfortáveis com eles mesmo, como a assassina de “Porto de Caixas” (1962), o jornalista de “O Desafio” (1965), a desesperada Nina de “A Casa Assassinada” (1970), e seu “Anchieta, José do Brasil” (1977). Os registros, porém, variavam título após título, sobretudo na primeira e mais robusta década de sua obra ficcional.

Basta pensar nos ecos neo-realistas de “Porto das Caixas”, no pioneirismo urbano e reflexivo de “O Desafio”, na pegada onirica e operística de sua versão de Lúcio Cardoso em “A Casa Assassinada”. Na segunda metade de sua carreira, porém, os títulos se espaçam (“Ao Sul do Meu Corpo”, 1981, “Natal da Portela”, 1988, “O Viajante”, 1998), as dificuldades de produção se sucedem, e sua obra se mantém inquieta mas perde densidade.

No documentário Saraceni estreou ao lado de Mário Carneiro com um filme desbravador. Inspirado por Rossellini e Eisenstein, “Arraial do Cabo” (1959) é um ensaio sobre o embate entre a tradição e a modernidade a partir do impacto da chegada de uma indústria sobre uma colônia de pescadores a 25 km de Cabo Frio. O contraste entre a alegria popular ao ar livre e as angulosas estruturas fabris desafiava a rigidez tradicional do discurso documental brasileiro, a ponto de Glauber Rocha saudá-lo, ao lado de “Aruanda” de Linduarte Noronha, como “os primeiros sinais de vida” de nosso documentário. (Em “Xaréu – Memórias do Arraial”, lançado no É Tudo Verdade deste ano, Patrícia Ramos Pinto reconstitui os bastidores daquelas filmagens e investiga as mudanças no cotidiano dos moradores passado meio século). 

Igualmente precursor, mas das técnicas do cinema direto por aqui, foi o média-metragem “Integração Racial” (1964). Como um dos primeiros documentários nacionais a colher com um gravador Nagra o som direto de depoimentos (de brancos, negros, mulatos, italianos e japoneses), ninguém menos que Paulo Emílio Salles Gomes o saudaria por ter “retomado o falar no cinema brasileiro’’.

“Bahia de Todos os Sambas”, seu principal documentário de longa-metragem, celebra os históricos shows de música popular baiana que Saraceni registrou ao lado de Leon Hirzsman (1937-1987) em Roma em agosto de 1983. Lançado no Festival de Veneza de 1996, brilha mais em partes do que no todo, com momentos inesquecíveis como Caetano entrevistando Caymmi e João Gilberto entoando “Estate”.

Conheci Saraceni quando a edição inaugural do primeiro festival que dirigi, o Eurocine (1993-1995), sediou o lançamento paulista de sua autobiografia, no contexto de uma mostra especial sobre o diálogo entre os “cinemas novos” brasileiro e europeus. Entusiasmado com o projeto, ele tentou intermediar uma visita de seu amigo “Bernardo” (Bertolucci), que não se concretizou, e providenciou uma sessão em homenagem póstuma a outro parceiro italiano, Gianni Amico (1933-1990).

Depois de uma década e meia de encontros fortuitos, chegou a hora de enfim homenageá-lo, no É Tudo Verdade de 2009, pelo cinquentenário de “Arraial do Cabo”. Saraceni esbanjou carisma em duas mesas-redondas, na Cinemateca Brasileira em São Paulo e no Instituto Moreira Salles no Rio, mas transformou a reconstituição das filmagens de seu primeiro clássico sobretudo numa celebração de seu parceiro Mário Carneiro, morto dois anos antes.

Só então compreendi de fato outra frase de Glauber sobre ele: “Aprendi de tudo com meus amigos mas Saraceni me conduziu ao fogo do Cinema e do Amor”. 

Fonte: http://www.itsalltrue.com.br/periodico/coluna/coluna.asp?lng=

terça-feira, 12 de abril de 2011

Vídeo nas Aldeias

Semana que vem, dia 20 de abril, tem sessão especial do Video nas Aldeias na sala do IPHAN as 16h, promovido pelo Cineclube Paraty.
Me fez lembrar da reportagem que escrevi junto com a queridíssima Patrícia Guimarães para concorrer no concurso do Itaú Cultural: Jornalismo Cultural.
Nos idos de 2003, ainda no primeiro ano da faculdade já namorava o documentário como o meio de expressão para minhas idéias. Fiz uma dezena de cursos, palestras, workshops com diretores e produtores. Vi muita gente boa falando sobre sua trajetória e me inspirei. Entre elas, João Batista de Andrade, Coutinho, Pizzini, Lilian Santiago e outros...
Quando apareceu o concurso do Itaú Cultural não tive dúvidas que escreveria sobre audiovisual, e claro sobre o documentário como forma de registrar e perpetuar os saberes de uma cultura. Depois de uma conversa com o amigo e professor Flavio Brito, tive a luz: falar sobre a experiência vivida pelos indios através do projeto Video nas Aldeias!
Compartilho aqui na íntegra a reportagem vencedora do primeiro Rumos Jornalismo Cultural!
Boa leitura!


Programação:
dia 20 - VÍDEO NAS ALDEIAS curtas brasileiros indígenas (87 min) : DE VOLTA À TERRA BOA DE MARI - de Corrêa e Vincent Carelli HUNI MEKA, OS CANTOS DO CIPÓ - de Josias Kaxinawá eTadeu Kaxinawa NGUNÉ ELU, O DIA EM QUE A LUA MENSTRUOU- Mutuá eTakumã Kuikuro PRIARA JÕ, DEPOS DO OVO, A GUERRA- de Komoi Panará 











OLHARES INDÍGENAS

Por Patrícia Guimarães e Tonica Moura Leite *


O encontro com a própria imagem para aqueles que têm o primeiro contato com a televisão é capaz de gerar um misto de emoções. “Cria expectativa. Onde aparece? Jamais vou aparecer nessas imagens. Não se imagina estar do outro lado, ou dentro do aparelho. O outro beija a máquina. Emociona. Além de emocionar, faz refletir que o mundo pode transformar a gente. Você se torna alguma coisa para outras pessoas”. Desta forma define o poder da imagem Hipãridi Top’Tiro (A’uwe Xavante), que vive há sete anos em São Paulo e é presidente da Associação Xavante Warã.
A imagem reproduzida pela televisão invade o inconsciente das pessoas permitindo que estas façam viagens a lugares até então desconhecidos. Seja por meio de ficção ou de documentários, ela abre um caminho de novidade que, mesmo que determinado local ou cultura já tenham sido conhecidos, transmite a impressão de ser algo novo, pelo simples fato do diferente olhar imbuído na imagem. Nesse âmbito, destacar o vídeo como meio de preservação da memória e de difusão da diversidade cultural torna possível a aproximação de realidades distantes.
E foi por meio da utilização dos recursos audiovisuais que as tribos indígenas do Brasil encontraram a melhor forma de inserir sua cultura na abrangente cultura brasileira. Para tanto, os recursos de imagem passaram a ser utilizados para resgatar a própria cultura, revelando as riquezas dos índios e de seus ancestrais. (continua)

Vídeo como instrumento de preservação da memória










Apoiadas pelo projeto Vídeo nas Aldeias, idealizado em 1986, por Vincent Carelli, indigenista, documentarista e fundador do projeto, muitas tribos indígenas do Brasil passaram a utilizar o vídeo como um instrumento. A intenção era fazer uso da imagem em seu benefício, divulgando e resgatando suas tradições culturais, criando um acervo que servisse de exemplo para as gerações futuras. Para eles, o registro de seus hábitos e de suas tradições serve para que sua cultura não se perca com a memória dos mais velhos. Desta forma, permanecendo viva principalmente para os jovens.
Tal projeto auxiliou no processo de formação de uma nova imagem do índio. Na criação de uma imagem que vai além do estereótipo criado pelos livros didáticos, que passou a ser concebida com apoio dos próprios índios e, colaborou para o processo de desintegração de uma imagem superficial e sem consistência, fruto da generalização feita pela mídia.
Para que, não houvesse uma perda de identidade de cada tribo, o projeto Vídeo nas Aldeias trabalhou em conjunto com os índios, na difusão de imagens de diversas tribos, realizando dessa maneira um intercâmbio cultural entre elas. Assim, cada uma pôde ressaltar o que havia de mais interessante e particular em sua cultura e transmiti-la por meio da troca de imagens.
Para tornar possível esse intercâmbio de imagens foi necessário montar salas de vídeo em cada aldeia. Onde todos se reúnem para ver o que foi filmado, dando ao vídeo o papel de informar e entreter, já que todos se divertem ao ver suas próprias imagens, ao recontar suas tradições.
A descoberta desse mundo de imagens despertou nos índios a necessidade de fazer parte do processo total de preservação cultural, ou seja, o interesse passou a ir além da ação enquanto “objeto” de cena, despertou a vontade de fazer parte da totalização do trabalho, que vai desde a captação de sua própria imagem até a edição. Foram criadas então as oficinas de capacitação, a mais importante foi a oficina no Parque do Xingu (MT), em 1998, que reuniu cerca de 30 índios, de 15 etnias diferentes. (continua)