terça-feira, 12 de abril de 2011

Os índios realizadores do vídeo

“A única maneira de fortalecer o nosso povo cada vez mais é através da imagem, que você vê completo, o som e a característica da pessoa, então isso fortalece a sua identidade”, afirma Caimi Waiasse, xavante da aldeia de Pimentel Barbosa (Mato Grosso) foi formado como realizador indígena pelo projeto Vídeo nas Aldeias. Caimi trabalha registrando as imagens de sua comunidade há 15 anos. A responsabilidade de contar a sua história e legitimar a qualidade do vídeo pela avaliação dos mais velhos contribuem para firmar a autodeterminação da sociedade indígena.
Participante ativo no processo de fortalecimento dos povos indígenas por meio da imagem, Estevão Nunes (Tutú Nunes), foi quem ensinou as técnicas de edição aos índios que participaram do projeto. Convidado por Vincent Carelli, idealizador do Vídeo nas Aldeias, Tutú Nunes ingressou no projeto a partir do segundo vídeo e logo começou a difundir não só a técnica entre os indígenas, mas também a apropriação conceitual, o porque filmar, com o objetivo de valorizar o processo de formação dos novos realizadores.
Reunidos para a discussão de roteiros e definição de melhores posicionamentos de câmera, cada índio apresenta a mesma situação sob um novo olhar. Cria-se uma nova plástica para o vídeo que torna autêntico o trabalho indígena, diferenciando-o do trabalho dos demais. “Vejo estilos muito diferentes entre eles. O Kumaré (Kumaré Txicão, Ikpeng, do Parque do Xingu) tem um estilo muito legal, ele procura planos de todos os lugares. Sobe em coisas, agacha, deita, faz coisas muito legais. O Caimi (Waiasse) já faz uma coisa mais tranqüila, mais calma, mais preocupado com a informação que está na imagem. O Jorge (Jorge Protodi, de Pimentel Barbosa), um outro xavante, tem um olhar legal também de enquadramento, ele busca ângulos diferentes”, observa Tutú Nunes.
Para ele, o fundamental no processo de apropriação dos meios audiovisuais pelos povos indígenas está no fato de que ninguém poderá contar melhor sua história do que eles mesmos. “Eu acho que o mais bonito dessa utilização é o potencial de poder contar a sua história com o próprio olhar. É obvio que um índio vai gravar uma festa dez vezes melhor do que eu. Ele sabe o significado da fala, eu não entendo xavante, tupi ou várias outras línguas, não sei se tal fala é importante. Eles conhecem o significado de toda a coreografia, sabem o significado de cada coisa, de cada gesto, e eu não sei. Ele sabe onde esperar e eu vou estar sempre correndo atrás, depois do que aconteceu”, explica o editor. (continua)

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